Assunto de atualidades: O Brasil é um país “rico”?
Sejam bem-vindos, caros alunos e visitantes! Vamos conversar sobre um importante assunto de atualidades.
Sou o Prof. Luiz Gustavo dos Reis e faço parte da equipe do Você Concursado, no qual sou responsável pelas disciplinas de geografia, atualidades e áreas afins. Neste artigo, proponho uma breve discussão sobre países “ricos” e países “pobres”, utilizando algumas informações acerca da realidade socioeconômica brasileira. Convido-te a refletir um pouco acerca desse tema e deixar a sua opinião na seção de comentários. Lembre-se que essa discussão é frequentemente cobrada em provas de concurso sobre geografia e atualidades, além das questões discursivas. Boa leitura!
Ponto de partida: Aspectos econômicos
Quando procura-se diferenciar os países “ricos” e “pobres”, predominam os fatores econômicos e sociais, isoladamente ou conjuntamente, a depender da perspectiva analítica a ser considerada por aquele que julga ou classifica.
Vamos falar, primeiro, sobre os aspectos econômicos. Com razão, eles vêm primeiro à nossa mente quando pensamos na categoria dos países “ricos” e/ou desenvolvidos. Sob esse ponto de vista, o país rico é aquele que se destaca na produção, circulação e consumo de bens e serviços. Possui sistema bancário altamente desenvolvido, parque industrial diversificado, mão-de-obra qualificada e altamente produtiva, recursos naturais abundantes (extraídos por lá mesmo ou vindos de longe, não importa) e investimentos vultuosos em inovação tecnológica. É aquele país cujo Produto Interno Bruto (PIB) alcança os patamares mais significativos, repercutindo, também, sobre a renda per capita. Enfim, é o país central, a grande potência, o “cerne” do globo, o “exemplo” a ser reproduzido, aquele que influencia e coordena os fluxos da economia internacional.
Nessa perspectiva, levando-se em consideração os indicadores econômicos, seria o Brasil um país “rico”? Ora, o nosso PIB é, atualmente, o nono maior do planeta, atingindo 1,796 bilhão de dólares em 2017. Antes da crise econômica aprofundar-se, chegamos a ocupar provisoriamente o sexto lugar no ranking dos maiores PIB’s globais em 2011, com 2,476 bilhões de dólares, à frente, por exemplo, do Reino Unido, da Itália, da Índia e da Rússia. Segundo preveem o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, a tendência é de ocuparmos a quinta posição nas próximas décadas, à frente da maioria dos países que compõem o G-7 (Grupo das sete maiores economias mundiais no período imediatamente posterior ao término da Segunda Guerra Mundial, composto por EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). Sendo assim, provavelmente o Brasil é um país rico!
Com aproximadamente 207 milhões de habitantes, o mercado brasileiro é um dos mais cobiçados entre os investidores estrangeiros. A economia do país é amplamente internacionalizada e as exportações/importações crescem continuamente (com superávit de 47 bilhões de reais em 2016). Em 2001, quando o economista inglês Jim O’Neill lançou o acrônimo BRIC, grupo que reúne as potências emergentes com capacidade de crescimento econômico sui generis no século XXI, prontamente inseriu o Brasil, junto da Rússia, China e Índia.
Os indicadores econômicos brasileiros são verdadeiramente animadores!
O país é líder na produção e exportação de commodities: soja (2º maior produtor), minério de ferro (2º), petróleo (maior produtor da América Latina e 10º lugar no mundo), açúcar (1º), café (1º), carne (2º), laranja (1º), milho (2º), etc; e também, não menos importante, na produção industrial: têxtil/calçadista, de energia elétrica, química, metalúrgica, mecânica, automobilística, etc. Quando se trata de ciência e tecnologia, fator que distingue os países centrais, inovadores, daqueles que são dependentes das inovações introduzidas em outros lugares, o Brasil ainda ocupa posição intermediária. Ainda que existam numerosos obstáculos, podemos pontuar alguns avanços recentes que nos aproximam do grupo seleto de países “ricos”:
- Em 2008 foi inaugurada a primeira empresa voltada à produção de semicondutores da América Latina, a Ceitec, em Porto Alegre – RS;
- Em 2017, foi lançado o primeiro satélite brasileiro geoestacionário para defesa e comunicações estratégicas;
- Vinte e duas universidades brasileiras estão entre as melhores do mundo, destacando-se a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp);
- Começam a consolidar-se tecnopolos que abrigam indústrias e centros de pesquisa do setor de inovação tecnológica, em Campinas-SP, São Carlos-SP, São José dos Campos-SP, Santa Rita do Sapucaí-MG, Porto Alegre-RS, Recife-PE, dentre outros;
- Em campinas-SP, encontra-se em construção um dos maiores e mais modernos aceleradores de partículas do planeta, denominado Sirius; etc.
Sendo assim, diante desses dados e exemplos, o Brasil dispõe de um panorama favorável à geração de riqueza, além de uma economia que é consideravelmente “forte” e em franca expansão. Nesse caso, poderíamos, a partir de critérios meramente econômicos, classificar o Brasil como país “rico”. Mas será que esses dados são suficientes para compreender a “realidade” do país? Logicamente, não! Necessitamos, ao lado dos aspectos econômicos, inserir os fatores de caráter social e ampliar o escopo dessa análise, antes de chegarmos a conclusões precipitadas. Em termos sociais, veremos que o Brasil não é país tão “rico” assim, pois a concentração de renda e as desigualdades sociais/regionais obstaculizam o desenvolvimento e “jogam” milhões de pessoas na pobreza e na miséria, ainda hoje.
O contraponto: aspectos sociais
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro atual é de 0,754 (a escala varia entre 0 e 1), ou seja, é considerado alto. Mesmo assim, nosso país ocupa o 75º lugar na lista global elaborada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). O Brasil está pior classificado do que, por exemplo, a Coreia do Sul (17º), a Grécia (29º), a Argentina (40º), o Chile (42º), Portugal (43º), Rússia (50º), Uruguai (52º), Panamá (60º), Cuba (67º), Costa Rica (69º) e México (74º). Apesar de relativamente alto, como qualquer indicador estatístico, o IDH brasileiro não consegue expressar, plenamente, as desigualdades sociais/regionais. Portanto, a realidade, em se tratando de qualidade de vida da população, pode ser pior ainda do que os dados revelam.
Enquanto a renda média per capita do Brasil é de aproximadamente R$ 28 mil anuais, todos nós sabemos que a maioria das pessoas não ganha nem perto disso (22 milhões de pessoas têm renda familiar per capita real de R$ 230,00 ou menos, segundo o IBGE). Enquanto o IDH mostra que o tempo de escolaridade aumentou consideravelmente nos últimos anos (média de 7,9 anos), sabemos que os alunos concretizam o ensino médio, muitos, analfabetos funcionais. Enquanto a expectativa de vida cresceu (aprox.. 74 anos), a violência nas periferias continua vitimando jovens, negros e pobres, principalmente, que morrem bem antes de alcançarem a fase idosa.
Assim, os indicadores sociais revelam que o Brasil é o país das contradições. Está entre os maiores produtores mundiais de alimentos, mas, mesmo assim, sete milhões de brasileiros convivem rotineiramente com a fome. Possui potencial mercado consumidor que atrai a cobiça do mundo, mas o salário mínimo alcança míseros R$ 937,00, limitando as perspectivas de ampliação dos níveis de consumo. As escolas, hospitais e presídios carecem de recursos mínimos, dificultando o acesso das classes menos favorecidas aos serviços de atenção básica e, portanto, ao exercício pleno da cidadania. Ainda hoje, quase 50% dos domicílios não têm acesso à rede de esgoto e 17% à rede de abastecimento de água. O cotidiano, para muitos, é sacrificante.
Recentemente, em relatório de pesquisa intitulado “A distância que nos une”, a Oxfam Brasil (Oxford Commitee for Famine Relief) demonstrou que a redução da pobreza brasileira verificada nas últimas décadas foi “superficial”. Apesar do crescimento da renda, as disparidades socioeconômicas mantiveram-se, colocando nosso país no décimo lugar entre os mais desiguais do mundo. Aqui, as seis pessoas mais ricas têm o mesmo patrimônio dos 100 milhões mais pobres e, todo mês, os 5% da população mais abastados recebem os mesmos rendimentos que os demais 95% juntos. Entre os que menos ganham, estão as mulheres e os negros.
O caso brasileiro exemplifica muito bem o fato de que não existe relação direta e necessária entre crescimento econômico e desenvolvimento social. Ambos nem sempre avançam ao mesmo ritmo, juntos, “de mãos dadas”. O Brasil tem economia “sólida” e pujante, e portanto é país rico, mas não enfrentou adequadamente as mazelas históricas que afetam a população e, sendo assim, continua persistentemente pobre.
Enfim, o Brasil é um “rico país pobre”, semiperiférico, nem central nem totalmente alijado dos fluxos que geram a riqueza global. Não é desenvolvido, pois os problemas sociais ainda persistem, tampouco subdesenvolvido. A riqueza está aqui, próxima de nós, mas concentrada, imperceptível para a maioria. E, assim, à medida que se aprofunda o “abismo social”, os direitos fundamentais das pessoas parecem, de perto, cada vez mais ignorados. Na minha visão, está aí nosso maior desafio para os próximos anos.
E quanto a você? O que acha desse assunto de atualidades? Discorda ou concorda com o texto? Deixe sua contribuição! Vamos dialogar! E lembre-se que esse tema, junto com vários outros, é tratado ao longo do curso de Geografia e atualidades Regular oferecido em nosso portal.
Abraço e até a próxima!
Concordo com as palavras do texto, uma vez que (aqui, em Belém do Pará, onde moro) a energia elétrica (luz) abastece as regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, no entanto, ABSURDA e PARADOXALMENTE, o paraense paga bem mais do que os cidadãos de outras regiões do Brasil. Resumindo: o Brasil é “UM RICO PAÍS POBRE”.
O Brasil só vai ser um país rico se acabarem com as desigualdade entre “pobres e ricos “.
A renda per capita do Brasil é de 2200 reais mensais, ou seja, se dividissemos igualmente, algo impossivel, nunca feito por nenhum país, cada brasileiro teria 2200 reais de renda, de acordo com analistas o salário ideal seria de pouco mais de 4 000, sendo assim, ainda não teriamos um padrao de vida de país rico.
Temos sim que diminuir nossa desigualdade, mas não se engane, além de diminuí-la temos que almentar nosso PIB. Pois não somos ricos e desiguais, somos pobres e desiguais.
Perdão: aumentar.
Bravo. Muito bem colocado. Fica bem claro e transparente que para aumentarmos nosso IDH é preciso combatermos a corrupção deslavada de nosso país, já que somos ricos economicamente, sugiro começando urgentemente com a redução de impostos que hoje emplacam aproximadamente 75% dos rendimentos dos brasileiros. Em segundo momento, uma distribuição de renda mais equilibrada, para chegarmos o mais próximo do salário mínimo divulgado todos os meses pelo DIESSE. Em médio, longo prazo, veremos uma nação mais qualificada e preparada para usufruir da própria matéria prima produzida, mudando esse quadro vergonhoso de mantermos nossa riqueza para fora e trazermos de volta o produto acabado pelo preço do mercado.
mandarmos* nossa riqueza para fora
arruma esse “produto interno bruno” que tá feio.