Como Fazer Seu Recurso Para a Prova Discursiva da PGE/PE (Cespe) – Especialidade: Calculista (Cargo 1)

Professor Marcelo Eustáquio

Meu caro concursando, o que vocês acharam da prova discursiva do concurso da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco, banca Cespe, para o cargo 1, especialidade calculista?

A questão abordou o importante Sistema de Amortização Constante (SAC) e, para analisa-la, vou transcrevê-la a seguir:

Um empresário contratou empréstimo de R$ 100.000 com uma instituição bancária. O montante foi entregue no ato de contratação, sem prazo de carência, e seria pago em dez prestações mensais consecutivas. A primeira prestação vencia no dia 15/2, um mês após a tomada do empréstimo. As operações de empréstimo nessa instituição bancária são realizadas com base unicamente no sistema Price ou no sistema de amortização constante (SAC), sendo a taxa de juros fixa e idêntica em ambos os sistemas. A tabela a seguir mostra parte da planilha do financiamento desse empréstimo:

Analisando a tabela, um consultor financeiro identificou o sistema financeiro que havia sido utilizado nesse negócio. Observou, ainda, que poderia identificar o sistema financeiro utilizado pela instituição bancária caso conhecesse apenas a coluna referente aos valores dos juros em cada mês ou a coluna referente aos valores das amortizações em cada mês do financiamento.

Tendo como referência o texto precedente e as características dos sistemas Price e SAC, redija um texto dissertativo respondendo, de forma justificada, aos seguintes questionamentos.

  1. Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permitiu que o consultor identificasse, a partir da planilha apresentada, aquele que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 6,00 pontos]
  2. Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permite que o consultor identifique, a partir apenas do conhecimento dos valores das amortizações correspondentes a cada mês, o sistema que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 12,00 pontos]
  3. Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permite que o consultor identifique, a partir apenas do conhecimento dos valores dos juros correspondentes a cada mês, o sistema que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 20,00 pontos]

Considerei a questão interessante, por cobrar, de forma teórica, elementos dos principais esquemas de amortização praticados pelas instituições financeiras. Para respondê-la, era necessário que o candidato conhecesse a evolução do valor das parcelas, dos juros e da parcela amortizada, ao longo do tempo.

Para estruturar a solução, construí as tabelas SAC e PRICE considerando valor presente de R$ 100.000,00 e amortização em 10 desembolsos com amortização mensal de 100.000/10 = 10.000 reais. Para determinar a taxa de juros, devemos observar que, na tabela apresentada, o esquema de amortização é o SAC (em função das parcelas decrescentes) e a parte de juros referentes à primeira parcela é 15.0000 – 10.000 = 5.000 reais e correspondem a 5% do valor presente e deve ser aplicado para as demais parcelas.

Comparação entre os sistemas SAC e PRICE

 

Quesito 2.1 Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permitiu que o consultor identificasse, a partir da planilha apresentada, aquele que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 6,00 pontos]

No quesito 2.1, esperava-se que o candidato expusesse e explicasse, corretamente, o comportamento da prestação (PMT) em cada um dos sistemas de amortização empregados pela instituição financeira. Ou seja, fazia jus à nota máxima o candidato que explicitasse que, no sistema PRICE, todas as parcelas apresentam valor constante enquanto no sistema SAC, as mesmas decrescem a taxa constante (de 500 reais a menos por mês).

Neste quesito, como são cinco os conceitos totalizando 6 pontos, o candidato poderá receber uma das notas zero, 1,5; 3,0; 4,5 ou 6,0 pontos.

Quesito 2.2 Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permite que o consultor identifique, a partir apenas do conhecimento dos valores das amortizações correspondentes a cada mês, o sistema que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 12,00 pontos]

No quesito 2.2, esperava-se que o candidato expusesse e explicasse, corretamente, o comportamento da amortização em cada um dos sistemas de amortização empregados pela instituição financeira. Assim, a nota máxima seria devida ao candidato que descrevesse o comportamento crescente da função “amortização” no sistema PRICE e constante no sistema SAC (refletindo a própria nomenclatura).

Assim como no quesito 2.1, também em função da existência de cinco conceitos totalizando agora 12 pontos, o candidato poderá receber uma das notas zero, 3,0; 6,0; 9,0 ou 12,0 pontos.

Quesito 2.3 Qual diferença básica entre os sistemas de financiamento utilizados pela instituição bancária permite que o consultor identifique, a partir apenas do conhecimento dos valores dos juros correspondentes a cada mês, o sistema que serviu de base para o referido financiamento? [valor: 20,00 pontos]

Por fim, para o quesito 2.3, o candidato deveria abordar o fato de que, em ambos os sistemas de amortização, os juros são decrescentes (uma vez que o saldo devedor se reduz a cada pagamento, e a taxa de juros é fixa, conforme o texto). No entanto, no SAC, esses juros decrescem segundo uma progressão aritmética (ou decrescem linearmente), com a mesma inclinação que a inclinação associada à curva relativa à parcela. Por outro lado, no sistema PRICE, os juros têm uma variação com diferenças crescentes (ou seja, o valor da parcela de juros fica mais distante anterior a cada pagamento).

Em função da existência de cinco conceitos totalizando 18 pontos, o candidato poderá receber uma das notas zero, 4,5; 9,0; 13,5 ou 18,0 pontos.

Por fim, acredito que, numa situação de competição e existindo pertinência, o mais aconselhável é recorrer. Na interposição dos recursos, é importante observar certos detalhes:

Dicas de Recurso

É possível que, apesar do Padrão de Resposta e dos critérios objetivos de correção da Banca Cespe-Cebraspe, a sua nota na prova discursiva seja injusta.

Caso ache que a pontuação não foi boa ou precise de uma nota melhor para melhorar as chances de ser convocado, você pode pedir a majoração da sua nota para a banca. Trata-se da fase de recurso contra o resultado preliminar da prova discursiva.

Muitos candidatos não se atentam a essa fase do recurso, pois mal sabem da importância dela.  Essa é a uma das poucas fases em que o candidato tem a oportunidade de ganhar nota. E esse ganho de nota costuma alterar significativamente a classificação de alguns candidatos.

E isso acontece muito! Não foram poucas as vezes em que vi pessoas serem convocadas graças às posições que ganharam depois do deferimento de seus recursos.

Para te ajudar nessa empreitada, selecionei algumas dicas de recurso para te auxiliar nessa fase, caso precise. 

Características essenciais de um recurso

1º) Como fazer um recurso individualizado 

O recurso individualizado é aquele único, sem qualquer similaridade com outros recursos. Para isso, é necessário fazer referências diretas ao seu texto. Essas referências podem ser citação de trechos do texto ou indicações de linhas.

Para ficar mais fácil de entender, vou mostrar um exemplo do que você NÃO deve fazer:

Halliday e Hasan (1976) dizem que a coesão tem a ver com o modo como o texto está estruturado semanticamente. É, portanto, um conceito semântico que se refere às relações de significado que existem dentro do texto e fazem dele um texto e não uma sequência aleatória de frase. A coesão é a relação semântica entre dois elementos do texto, de modo que um deles tem de ser interpretado por referência ao outro, pressupondo-o.

Widdowson (1978) diz que a coesão “é o modo pelo qual as frases ou partes delas se combinam para assegurar um desenvolvimento proposicional…” O texto em análise é coeso e se constrói com elementos de ligação são pronomes, verbos, advérbios, conectores coesivos (termos e expressões); e sem sequenciadores, sendo o lugar do conector marcado por sinais de pontuação (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula).

Segundo Koch e Travaglia (1989:13), a coesão é explicitamente apresentada através de elementos linguísticos, indicações na estrutura superficial do texto, sendo de caráter claro e direto, expressando-se na organização sucessiva do texto. Halliday e Hasan (1976 apud Koch & Travaglia, 1989:13)

A explicitação deste ponto citado acima encontra-se em todo o texto.

Muitos candidatos vão achar que esse recurso está excelente, pois conta com bastante embasamento teórico. Todavia, este é um grande equívoco. Recursos assim não comprovam nada para o examinador.

Em primeiro lugar, parece mais uma aula de coesão e o examinador não precisa que você ensine a ele o que é “coesão textual”. Em segundo lugar, porque se trata de um recurso genérico e cansativo. Além de não fazer referência em nenhum momento ao texto do candidato, é muito chato de ler. O examinador vai dormir antes mesmo de chegar no terceiro parágrafo.

Em alguns casos, recursos assim são indeferidos preliminarmente, sem sequer passar pelas mãos do examinador.

2º) O recurso deve ser tempestivo

As bancas examinadoras são bem rigorosas com o prazo de interposição do recurso. Após a divulgação do resultado com a nota da prova discursiva, o candidato possui 2dias úteis para elaborar o recurso.

Como o prazo é curto, não dá para deixar para última hora, pois qualquer imprevisto pode minguar com as suas chances de recorrer e melhorar a pontuação na prova. Então, fique atendo à regra do Edital.

3º) No recurso não deve constar nenhuma forma de identificação do aluno

Ao elaborar o recurso, muitos candidatos tem a mania de inserir seus nomes: “ Eu, Fulano de tal, gostaria de recorrer do resultado…”.

Se você fizer isso, terá seu recurso indeferido antes de chegar na mão do examinador. Então, nada de se identificar, ok?

Todavia, não há problema em citar a nota que tirou em determinado critério. Afinal, o objetivo do recurso é contestar a nota atribuída.

4º) O recurso deve ser claro e objetivo

Esse é o grande desafio do recurso. O candidato deve ir direto ao ponto e explicar para o examinador porque sua nota deve ser majorada, sem fazer muitos rodeios.

Os argumentos, no entanto, devem ser claros. Por isso, utilizar uma linguagem simples, técnicas de enumerações e divisão em tópicos ajudam muito.

Antes de enviar seu recurso, pergunte a você mesmo: Se eu tivesse 100 recursos para ler, leria o meu? Se achar que o seu recurso está cansativo, melhore o texto. Coloque-se sempre no lugar do examinador.

5º) Atenção à linguagem utilizada

A linguagem é muito importante. Trata-se de um texto de natureza individual. Logo, o recurso pode ser escrito de forma impessoal ou na 1ª pessoa no singular (Eu). Por isso, cuidado! Escrever o recurso na 1ª pessoa no plural (Nós), não cai bem, ok?

6º) Devo contratar um especialista para fazer o meu recurso?

Como se trata de uma fase importante, é comum que os candidatos procurem professores que possuam experiência na elaboração de recursos. E isso é uma ótima opção, caso tenha recursos financeiros disponíveis ou possua grandes chances de ser convocado no concurso.

Em primeiro lugar, porque o professor tem acesso a várias provas do seu concurso, logo, poderá fazer uma análise mais profunda e entender como a Banca está corrigindo as provas.

Em segundo lugar, porque o especialista tem prática nesse tipo de serviço e sabe como e quais os pontos que devem ser contestados. Inclusive, possuem modelos de recursos que já deram certo e isso pode fazer toda a diferença.

Por fim, na elaboração de recursos acerca dos aspectos gramaticais, é necessário um conhecimento mais aprofundado da língua portuguesa.

Porém, cuidado na hora de contratar um especialista!

O recurso contra o resultado da prova discursiva deve ser sempre individualizado. Recursos iguais ou semelhantes serão preliminarmente indeferidos. Isto é, se seu recurso for muito genérico ou igual ao de outro candidato, a Banca nem vai ler. Possivelmente, vai indeferi-lo antes de encaminhá-lo ao examinador.

Já vi casos em que um professor redigiu o mesmo recurso (genérico) para diversos alunos e entregou-os faltando apenas 1 hora para o encerramento do prazo de interposição do recurso. Resultado: não havia mais tempo para os alunos refazerem seus próprios recursos, tiveram os recursos indeferidos, gastaram dinheiro e ainda perderam a chance de melhorarem suas classificações no concurso!

Portanto, fique sempre atento ao histórico do professor caso venha a contratar um serviço de recurso, ok?

Por fim, reforço meu conselho de jamais desistir do seu foco, mesmo quando, às vezes, o percurso não seja da forma que imaginamos.

Bom, espero ter facilitado a sua vida! A equipe do Você Concursado e eu estaremos à disposição para lhe ajudar nesta fase!

Prof. Marcelo Eustáquio

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