TEXTO I
A não-vacinação é terreno fértil para o vírus mutante
As pessoas acham que vacinas são como um remédio comprado em farmácia. Tomam a dose recomendada e curam todo o mal. Se você tem uma úlcera ou uma arritmia cardíaca, por óbvio não contagiosas, a realidade pode ser dura, mas sua condição de saúde é um problema individual. No caso da Covid-19, não. Se eu, como voluntária, me vacinar nos próximos meses, como é o compromisso do estudo clínico do qual sou parte, e boa parcela da sociedade simplesmente se recusar a receber o imunizante, todos estaremos vulneráveis ao vírus que já matou quase dois milhões de pessoas no mundo inteiro.
O SARS-Cov-2 conseguiu se adaptar muito bem à espécie humana e se espalha muito, muito rápido. Cada vez que ele é transmitido, vai fazendo cópias de si mesmo. Nessas cópias, não é raro que alguma coisa fique fora do lugar. Essa pecinha replicada de forma diferente é a mutação, que pode, por exemplo, deixar o vírus mais mortal (como ainda não aconteceu na pandemia de Covid-19) ou mais transmissível (como ocorreu com a cepa recentemente descoberta no Reino Unido e que já se espalhou por pelo menos outros 27 países, incluindo o Brasil).
Voltemos à vacina. Se tivermos um grande universo de pessoas imunizadas após receberem antígenos da Pfizer, da Moderna ou da Sinovac (não importa), o vírus vai ter um território mais restrito para circular. E vai, portanto, fazer menos cópias dele mesmo. Com menos réplicas, será mais baixo o risco de mutações.
Vírus mutantes são um verdadeiro desafio para as vacinas. Imagine a cena: a pessoa recebe a dose na vez dela no Plano Nacional de Imunizações e, com ela, o corpo passa a reconhecer aquele agente invasor específico e a produzir anticorpos para matá-lo. Se a cada momento o vírus mudar de feição, o sistema imunológico, que aprendeu a combater um inimigo só, estará diante de um novo oponente. E pode ter que começar do zero. Se poucos se vacinarem e boa parte dos brasileiros não, é grande o risco de vírus mutarem mais (porque farão mais cópias de si mesmo), e os anticorpos que eventualmente os vacinados tenham desenvolvido podem ser inúteis diante da nova cepa.
Laryssa Borges
TEXTO II
O guardador de rios
Depois da Independência, um programa de controlo dos caudais dos rios foi instalado em Moçambique. Formulários foram distribuídos pelas estações hidrológicas espalhadas pelo país e um programa de registro foi iniciado para os mais importantes cursos fluviais. A guerra de desestabilização eclodiu e esse projeto, como tanto outros, foi interrompido por mais de uma dúzia de anos. Quando a Paz se reinstalou, em 1992, as autoridades relançaram o projecto acreditando que, em todo o lado, era necessário recomeçar do zero. Contudo, uma surpresa esperava a brigada que visitou uma isolada estação hidrométrica no interior da Zambézia. O velho guarda tinha-se mantido activo e cumpria, com zelo diário, a sua missão durante todos aqueles anos. Esgotados os formulários, ele passou a usar as paredes da estação para grafar, a carvão, os dados hidrológicos que era necessário registrar. No interior e exterior, as paredes estavam cobertas de anotações e a velha casa parecia um imenso livro de pedra. Orgulhoso, o guarda recebeu os visitantes à entrada e apontou para a madeira da porta:
– Começa-se a ler por aqui, para ir habituando os olhos ao escuro.
A esperança é a última a morrer. Diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espetacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro.
O episódio da estação hidrométrica passou a ser um dos alimentos do meu sentimento de esperança. Como se me lembrasse que devo dialogar com invisíveis rios e tudo em meu redor podem ser paredes onde eu nego a tentação do desalento.
Mia Couto
TEXTO III

Caetano Cury
(https://abobrinhaecia.wordpress.com/category/clube-do-panca/)
Os textos presentes na prova discutem, cada um a seu modo, o acesso à produção de conhecimento. No texto I, a autor aborda a importância da vacinação, considerando as opiniões que mostram resistência. No texto II, o autor relata a história de personagem que manteve sua atividade de registro e produção de conhecimento. Já no texto III, a tirinha destaca comportamentos construídos no ambiente conectado. Com base nos textos e seus conhecimentos, elabore um texto argumentativo que responda à seguinte questão: É impossível impor restrições à divulgação de opiniões ofensivas nas redes sociais?
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TEXTO I
Tabuletas
Foi um poeta que considerou as tabuletas – os brasões da rua. As tabuletas não eram para a sua visão apurada um encanto, que a necessidade incrustou na via pública; eram os escudos de uma complicada heráldica¹ urbana, do armorial da democracia. Desde que um homem realiza sua obra – a terminação de uma epopeia ou abertura de uma casa comercial – imediatamente o homem batiza-a. No começo da vida, por instinto, guiado pelos deuses, a sua ideia foi logo a tabuleta. Quem inventou a tabuleta? Ninguém sabe.
É o mesmo que perguntar quem ensinou a criança a gritar quando tem fome. Já no Oriente elas existiam, já em Atenas, já em Roma, simples, modestas, mas sempre reclamistas. Depoi…
O texto “FUTEBOL, RACISMO E “DEMOCRACIA RACIAL”” relata um episódio de racismo em um estádio brasileiro e o associa a um problema social mais geral.
Escreva um texto expondo suas ideias sobre outra forma de preconceito que você conheça. Quais são, na sua opinião, as formas para acabar com esse preconceito? Que papel a escola teria, nesse caso? Quem mais deveria estar envolvido nessa luta contra o preconceito?



