Analise o caso a seguir.
Orlando, 26 anos, não consegue trabalho nem segue os estudos universitários; ele não tem renda nem perspectiva de tê-la. Orlano vive dentro de casa, sendo a maior parte do tempo no quarto, no seu computador e diz não saber se deseja fazer uma faculdade. Relata aos examinadores que antes ele precisa “encontrar o meu lugar no mundo.” Contudo, não mostra sofrimento mental, se mostrando egossintônico.
A mãe de Orlando, presente na consulta, trouxe clara demanda por um “laudo” para que seu filho pudesse se beneficiar das políticas públicas para pessoas portadoras de necessidades especiais (PNE). Para justificar sua demanda, ela recitou uma extensa lista de “problemas mentais”, em alguns momentos constrangendo os profissionais presentes com palavras duras e pouco apropriadas relativas ao filho, completando o discurso com “dá pra ver que ele é maluco não é, Doutor? Eu não aguento mais sustentar esse marmanjo!” Orlando, não expressou a mínima reação às palavras da mãe e nem se moveu para ponderar o discurso que ouvia, mantendo um olhar fixo no quadro da parede, enquanto dedilhava o polegar sobre os quatro dedos, ininterruptamente. Às vezes, esboçava um sorriso para os examinadores e a mãe.
A mãe conta que Orlando falou após os 2 anos e meio e que interagia pouco quando bebê. Não soube precisar sobre a capacidade da criança em fixar o olhar na infância. Desde criança, apesar de muito inteligente, era reconhecido como alguém diferente, “doidinho”, “maluquinho”. Nunca apresentou comportamentos bizarros ou inapropriados, embora se relacionasse de uma forma “estranha” com as pessoas; era, frequentemente, tomado como alguém frio, excessivamente sério e até mal-educado, por não demonstrar um comportamento esperado nas interações sociais. Por isso, na época da escola foi por um tempo, vítima de bullying, o que gerou bastante sofrimento a ele. Na maior parte do tempo, seja na escola, em casa ou na de parentes, preferia ficar quieto em um canto, absorto na leitura ou no jogo eletrônico de Tetris, com o qual passava horas do dia (ou o tempo todo, se ninguém colocasse limite. Quando se engajava em conversas, preferia dividir o espaço com adultos e pessoas idosas, ao invés de seus pares.
Desde novo, mesmo nas rotinas mais simples mostrava inflexibilidade, como somente beber em uma mesma caneca. Quando ela se quebrou, Orlando mostrou um sofrimento importante para usar um utensílio alternativo. Apresentava resistência em mudar o caminho percorrido todos os dias para a escola. Por volta de 12 anos de idade, durante alguns meses apresentou compulsão por lavar-se, tomando vários longos banhos por dia, lavando repetidas vezes as mãos. Não se recorda de pensamentos intrusivos que desencadeassem o comportamento. Desde pequeno tinha dificuldade em partilhar interesses com seus pares, pois ficava focado em um mesmo assunto por algum tempo, de modo a só falar sobre isso e só ler sobre esse assunto. Quando menor se interessou por dinossauros, depois de um tempo por bandeiras de diferentes países e, recentemente, só conversa sobre jogos de computador. Terminou o ensino médio sem dificuldades acadêmicas, com notas excelentes em quase todas as matérias. Iniciou duas faculdades, mas não se interessou em dar continuidade.
“Eu preciso saber qual o meu lugar no mundo”, repete.
Súmula psicopatológica: na consulta o paciente se mostra cooperativo e de atitude algo indiferente. Vigil, orientado auto e alopsiquicamente, atenção e memória sem alterações. Senso-percepção sem alterações. Eutímico, afeto pobre (evidenciado por pouca expressividade facial e prosódia monocórdica). Motricidade com maneirismos e estereotipias sutis. Pensamento sem alterações evidentes de forma, curso ou conteúdo. Inteligência, juízo de realidade e consciência do “eu” sem alterações. Sem juízo crítico de morbidade.
Com base no DSM-5-TR (Associação Americana de Psiquiatria. DSM 5-TR: Manual diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 5ª ed. 2023), responda aos quesitos a seguir.
a. Formule uma hipótese diagnóstica para o paciente, coerente com a fenomenologia clínica apresentada.
b. Indique os critérios diagnósticos do DSM-5-TR que permitem inferir tal diagnóstico. Destaque trechos da história que justifiquem cada critério.
c. Com base no DSM 5-TR, indique o nível de gravidade em que este paciente se enquadra. Justifique.
d. Identifique pelo menos duas hipóteses diagnósticas diferenciais para esse quadro.
e. Do ponto de vista das características diagnósticas, interprete a fala “eu preciso saber qual o meu lugar no mundo” e apresente as consequências dessa ideia (cristalizada?) na dinâmica de vida do paciente.
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