Instruções:
1. Identifique, no texto abaixo, os usos que desrespeitam a norma culta do Português do Brasil.
2. Efetue as correções necessárias e transcreva o texto, integralmente e em letra legível, na folha reservada para a transcrição.
3. Considere que a introdução de novos desvios da norma culta durante o processo de transcrição será penalizada.
4. Não assine a prova discursiva, nem por qualquer forma a identifique. A identificação implicará anulação da prova.
Com os corpos recente e cuidadosamente pintado de vermelho e azul, inteiramente nus, Assis Chateaubriand e sua filha Teresa estavam sentados no chão, mastigando pedaços de carne humana. Freqüentemente taxado de autoritário, o “rei do Brasil” usava um enorme cocar, feito de penas azuis de arara, que lhe cobria os cabelos já quase completamente grisálios e caíam sobre suas costas, como uma trança. De longe, o excesso de gordura em volta dos mamilos e a barriga flácida escondendo o sexo dava ao jornalista a aparência de uma velha índia gorda e inferma. Pai e filha comiam com voracidade os restos do bispo Pero Fernandes Sardinha, cujo o barco adernava ali perto, na foz do rio Coruripe, quando o religioso português se preparava para retornar a pátria. Ouviam-se ruídos diversos no ar, mas, quem apurasse os tímpanos, juraria que podia escutar, vindo não se sabe de onde, acordes do Parsifal, de Wagner. No chão, em meio os despojos de outros náufragos, Chateaubriand avistou um embornal cor de areia, aonde haviam exemplares do Diário da Noite, os quais, no cabeçalho, era possível ler a data do festin canibal: 15 de julho de 1556. Derrepente o dia escureceu completamente e ele sentiu algo húmido e frio deslisando em seu pescoço. Reaveu, subtamente, parte de sua consciência.
O delírio fora interrompido pelo gesto do enfermeiro que esfregava um chumaço de algodão embebido em iodo na garganta do paciente. Atravéz da janela de dez por dez centímetros cortada no centro do lençol cirurgico que cobria o corpo, só se via as pontas salientes das clavículas e o curto pescoço. O rosto estava interamente oculto pelo lençol, sob o quê se desenhava o formato da máscara de baquelita que envolvia o nariz e a boca do paciente, dando ao perfil a aparência de um focinho. O tecido branco cobria parte de um tubo de borracha sanfonada que estava ligado a um tambor de aço, de cujo interior o único pulmão vivo do doente acelerava e freiava alternadamente os seus movimentos na tentativa desesperada de aspirar ao oxigênio e, pelo o menos, manter o organismo funcionando. A respiração tornava-se crítica, e, se a cânula da traqueostomia não fosse introduzida logo, as chances de sobrevivência de Chateaubriand seriam nulas. O indicador e o polegar esquerdos do médico esticou a pele encima do pomo-de-adão, escolhendo o anel da traquéia que seria sessionado pela incisão. Quando o cirurgião que assistia ao ilustre doente lhe encostou o agussado fio de navalha na garganta, acabara, num átimo, a luz do hospital, e a sala foi tomada pela mais completa escuridão.
(Adaptado de Fernando de Morais. Chatô. O rei do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 13