As décadas de 1950-60 foram de excepcional fermento cultural na Bahia, tendo como polo irradiador a recém criada Universidade Federal (UFBA), que, sob o comando do reitor Edgar Santos, queria reinserir a cultura baiana no circuito das artes modernas do Brasil e de fora. Para isso, convidou intelectuais de peso: o diretor teatral Martim Gonçalves, a dançarina Yanka Rudzka, os músicos Ernest Wídmer e Walter Smetak e o maestro Koellreutter.
A respeito dos movimentos de vanguarda em Salvador, e do ambiente cultural da Escola de Música da UFBA naquele período, leia o depoimento de Caetano Veloso.
Lembro do pianista David Tudor, em 1961/62, apresentando peças de John Cage no salão nobre da reitoria da Universidade da Bahia, a sala cheia, o professor Koellreutter de pé observando. Uma das composições previa que, a certa altura, o músico ligasse um aparelho de rádio ao acaso. A voz familiar surgiu como que respondendo ao seu gesto: “Rádio Bahia, Cidade do Salvador”. Toda a plateia caiu na gargalhada. A cidade tinha inscrito seu nome no coração da vanguarda mundial com uma tal graça e naturalidade, com um jeito tão descuidado, que o professor Koellreutter, entendendo tudo, riu mais do que toda a plateia. O fascínio por aquela música feita de silêncios e acasos não me abandonou mais. Não sei dizer por que, mas eu já chegara de Santo Amaro preparado para coisas assim. Eu simplesmente ansiava por elas.
Caetano Veloso (adaptado), prefácio de RISÉRIO, Antônio. Avant-garde na Bahia. São Paulo, Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995.
A partir do texto, faça o que se pede:
a) Indique dois movimentos da “vanguarda mundial” no campo da música referidos por Caetano Veloso em seu depoimento.
b) Escolha um desses movimentos e descreva suas inovações quanto à composição e à criação musical.
c) Explique uma crítica desses movimentos de vanguarda ao nacionalismo musical brasileiro de Villa-Lobos e Mário de Andrade.