No conhecido Sermão da Sexagésima, pronunciado em 1655 na Capela Real, apresenta-nos ele [Padre A. Vieira] um pregador a discorrer sobre a Paixão. Fala este sobre Cristo chegando ao pretório de Pilatos, e como o fizeram rei de zombaria, com uma púrpura aos ombros: ouve-o o auditório muito atento. Diz que teceram uma coroa de espinhos e lhe pregaram na cabeça, e todos continuam a ouvi-lo com a mesma atenção. Narra, um a um, tudo quanto se sabe dos padecimentos do Senhor, e prossegue o mesmo silêncio, a mesma suspensão entre os ouvintes. Nisto corre-se a cortina, aparece a imagem do Ecce Homo, e eis que todos subitamente se prostram, todos entram a bater nos peitos, eis as lágrimas, eis os gritos, eis os alaridos, eis as bofetadas.
Sergio Buarque de Holanda. Visão do Paraíso. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 234.
Nota: A frase latina
Ecce Homo — que significa
eis o homem — teria sido proferida por Pilatos, ao apresentar Jesus Cristo coroado de espinhos ao povo.
Ao fazer a paráfrase do famoso Sermão da Sexagésima (1665), do Padre Vieira, o autor de Visão do Paraíso destaca a súbita mudança de atitude do público. Interprete e explique tal mudança.