Quando conduzimos essa rápida revisão das correntes amplas da história, não é exato que uma certa persistência da relação geográfica se torna evidente? Não é exato que a região-pivô da política mundial é aquela vasta área da Eurásia que é inacessível aos navios, mas que, na antiguidade, ficava exposta a nômades montados a cavalo e, hoje, está em vias de ser coberta por uma rede de ferrovias? […] A Rússia substitui o Império Mongol. […] No mundo em geral, ela ocupa a posição estratégica central detida pela Alemanha na Europa. Ela pode atacar e ser atacada por todos os lados, exceto o norte. O desenvolvimento pleno de sua mobilidade ferroviária moderna é apenas uma questão de tempo. […] Fora da área-pivô, em um grande crescente interior, estão Alemanha, Áustria, Turquia, Índia e China, e, em um crescente exterior, Grã-Bretanha, África do Sul, Austrália, Estados Unidos da América (EUA), Canadá e Japão. […] Os EUA tornaram-se, recentemente, uma potência [também] no Oriente, afetando o equilíbrio europeu não diretamente, mas por meio da Rússia, e estão construindo o canal do Panamá para tornar seus recursos do Mississipi e do Atlântico disponíveis no Pacífico. […] O desequilíbrio da balança de poder em favor do Estado-pivô, resultando na sua expansão sobre as terras marginais da Eurásia, permitiria o uso dos vastos recursos continentais para a construção naval e, a partir daí, o império mundial estaria à vista. Isso poderia ocorrer se a Alemanha se aliasse à Rússia. A ameaça desse evento deveria, portanto, conduzir a França a uma aliança com as potências marítimas, e França, Itália, Egito, Índia e Coreia tornar-se-iam outras tantas cabeças de ponte a partir de onde as marinhas externas poderiam apoiar exércitos e pressionar a aliança-pivô a manter forças terrestres, em vez de lançar todo seu poder na projeção naval. […] As combinações particulares de poder nesse equilíbrio não são essenciais; minha tese é que, de um ponto de vista geográfico, elas devem girar em torno do Estado-pivô, que será sempre grande, mas com mobilidade limitada se comparado às potências marginais e insulares que o rodeiam. […] a substituição da Rússia por alguma nova potência no controle da área interior não tenderia a reduzir a importância geográfica da posição de pivô.
MACKINDER, H. J. The geographical pivot of history. In: The Geographical Journal, vol. 23, n. 4 (abril de 1904), p. 421-437, com adaptações.
Em 1904, o geógrafo britânico Halford J. Mackinder publicou texto de conferência na Sociedade Geográfica Britânica, que veio a servir de base para boa parte da reflexão geopolítica subsequente. Em O pivô geográfico da história, Mackinder sustenta que a tensão básica do sistema internacional seria entre a potência ou potências que controla(m) a área-pivô ou Heartland (o centro da massa terrestre eurasiática) e as que controlam as áreas dos crescentes interno (a periferia marítima da Eurásia, o que Nicholas Spykman chamou de Rimland) e externo (as potências navais: Império Britânico, Estados Unidos, Japão). Mackinder, em 1919, sintetizou o próprio pensamento na fórmula célebre: quem controla a Europa Oriental controla o Heartland; quem controla o Heartland controla a Ilha-Mundo (Ásia, Europa, África); quem controla a Ilha-Mundo comanda o mundo.
Considerando que os fragmentos apresentados têm caráter meramente motivador, aborde, necessariamente, os seguintes tópicos:
a) analise sinteticamente se a tese de Mackinder correspondeu ou não ao teste da história, de 1904 até hoje; e
b) descreva quais seriam, hoje, os objetivos estratégicos dos EUA, da China e da Rússia, levando em conta o pensamento de Mackinder e o cenário estratégico atual.
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