Leia, com atenção, o texto a seguir.
Os valores arquitetônicos devem ser salvaguardados (edifícios isolados ou conjuntos urbanos).
A vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, que se manifesta ao longo dos séculos por obras materiais, traçados ou construções que lhe conferem personalidade própria e dos quais emana, pouco a pouco, a sua alma. São testemunhos preciosos do passado que serão respeitados, a princípio, por seu valor histórico ou sentimental; depois, porque alguns trazem uma virtude plástica na qual se incorporou o mais alto grau de intensidade do gênio humano. Eles fazem parte do patrimônio humano, e aqueles que os detêm ou são encarregados de sua proteção têm a responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito para transmitir intacta para os séculos futuros essa nobre herança.
Serão salvaguardados se constituírem a expressão de uma cultura anterior e se corresponderem a um interesse geral […].
A morte, que não poupa nenhum ser vivo, atinge também as obras dos homens. É necessário saber reconhecer e discriminar, nos testemunhos do passado, aqueles que ainda estão bem vivos. Nem tudo o que é passado tem, por definição, direito à perenidade; convém escolher com sabedoria o que deve ser respeitado. Se os interesses da cidade são lesados pela persistência de determinadas presenças inertes, majestosas, de uma era já encerrada, será procurada a solução capaz de conciliar dois pontos de vista opostos: nos casos em que se esteja diante de construções repetidas em numerosos exemplares, algumas serão conservadas a título de documentário, as outras, demolidas; em outros casos, poderá ser isolada a amostra que evoca uma lembrança ou um valor real; o resto será modificado de maneira útil. Enfim, em certas excepcionalidades poderá ser aventada a transplantação de elementos notáveis por sua situação, mas que merecem ser conservados por seu alto significado estético ou histórico.
Se sua conservação não acarreta o sacrifício de populações mantidas em condições insalubres […].
A salvaguarda do passado não pode levar a desconhecer as regras da justiça social. Espíritos mais ciosos do esteticismo do que da solidariedade militam a favor da conservação de certos velhos bairros pitorescos, sem se preocupar com a miséria, a promiscuidade e a doença que eles abrigam. É assumir uma grave responsabilidade. O problema deve ser estudado e pode, às vezes, ser resolvido por uma solução engenhosa; mas, em nenhum caso, o culto do pitoresco e da história deve ter primazia sobre a salubridade da moradia da qual dependem tão estreitamente o bem-estar e a saúde moral do indivíduo.
É possível remediar sua presença prejudicial com medidas radicais: por exemplo, o destino de elementos vitais de circulação ou mesmo o deslocamento de centros congestionados, ainda intuitivos.
O crescimento excepcional de uma cidade pode criar uma situação perigosa, levando a um impasse do qual só se sairá aceitando alguns sacrifícios. O obstáculo só poderá ser suprimido pela demolição. Mas quando essa medida acarreta a destruição de verdadeiros valores arquitetônicos, históricos ou espirituais, mais vale, sem dúvida, procurar uma outra solução. Em vez de suprimir o obstáculo à circulação, desviar-se-á a própria circulação, ou se as condições o permitirem, impor-se-lhe-á uma passagem sob um túnel. Enfim, pode-se também deslocar um centro de atividade intensa e, transplantando-o para outra parte, mudar inteiramente o regime circulatório da zona congestionada. A imaginação, a invenção e os recursos técnicos devem combinar-se para chegar a desfazer os nós que parecem mais inextricáveis.
A destruição de certos cordões ou redores monumentais históricos dará ocasião para criar superfícies verdes.
É possível que, em certos casos, a demolição de casas insalubres e de cortiços ao redor de algum monumento de valor histórico destrua uma ambiência secular. É uma coisa lamentável, mas inevitável. Aproveitar-se-á a situação para introduzir superfícies verdes. Os vestígios do passado mergulharão em uma nova atmosfera, talvez, mas certamente tolerável, da qual, em todo caso, os bairros vizinhos se beneficiarão amplamente.
O emprego de estilos do passado, sob pretextos estéticos, nas construções novas criadas em nossos dias, traz consequências nefastas. A imitação de tais usos ou a introdução de tais iniciativas não serão toleradas de forma alguma.
Quais métodos são contrários à grande lição da história? Nunca foi constatado um retrocesso, nunca o homem voltou sobre seus passos. As obras-primas do passado nos mostram uma totalidade de uma geração que teve sua medida, suas concepções, seu estilo, recorrendo, como trampolim para a sua imaginação, à totalidade de seu tempo e de sua época. Copiar servilmente o passado é condenar-se à mentira, é erigir o “falso” como princípio, pois as antigas condições de trabalho não poderiam ser reconstituídas, e a aplicação da técnica moderna a um ideal ultrapassado sempre leva a um simulacro grosseiro do passado. Misturando o “falso” ao “verdadeiro”, longe de se alcançar uma impressão de conjunto ou a sensação de pureza de estilo, chega-se somente a uma reconstituição fictícia, capaz apenas de desacreditar os testemunhos autênticos, que mais se tinham em empenho em preservar.
LE CORBUSIER. Carta de Atenas de Atenas. Disponível em: https://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Atenas%201933.pdf. Acesso em: 18 ago. 2023, com adaptações.
Redija, com as suas palavras, um resumo do texto apresentado.
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