Texto I
“Não serei a última”, diz Célia Xakriabá, primeira mulher indígena doutora pela UFMG
Deputada federal por Minas Gerais trata de saberes ancestrais em tese de doutorado
Pela primeira vez na história, uma mulher indígena se tornou doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL) defendeu a tese “Ancestraliterra – Sabedoria indígena na política e na universidade”, que propõe uma integração entre os saberes tradicionais dos povos indígenas e o conhecimento acadêmico.
O trabalho de Célia, apresentado no departamento de antropologia da instituição, valoriza o conhecimento ancestral, a partir de uma visão de território que transcende a geografia, com o conceito de que “o corpo é território e o território é corpo”.
Além disso, a deputada apresenta a ideia de “mulheres-semente”, que são as pioneiras na produção de conhecimento, como as benzedeiras e as parteiras.
O trabalho da mais recente doutora valoriza os saberes tradicionais e científico, mostrando que as duas formas de conhecimento não são antagônicas e podem caminhar juntas. Para isso, ela usa a academia para defender o território e a cultura indígenas, a partir de um olhar de pertencimento, e não apenas de observação.
Como não poderia deixar de ser, a política também está presente no trabalho da parlamentar, que destaca suas origens no Cerrado, onde o pequi, fruto considerado o “ouro do Cerrado”, simboliza o respeito e o cuidado com a natureza, em contraste com a exploração predatória dos recursos naturais. Ela perpassa a sua luta dentro do território e por acesso a espaços representativos, como a universidade e a política partidária.
Célia ainda destaca a importância da sua produção acadêmica e de sua presença no espaço de produção de conhecimento científico como a inauguração de um novo possível para os povos indígenas. “Eu sou a primeira, mas não serei a última”, enfatiza.
(Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/. Acesso em: junho de 2025. Adaptado.)
Texto II
Uma literatura nossa para falarmos de nós
A Bienal Internacional do Livro do Ceará, ao longo de 15 edições, vem se consolidando como um dos mais importantes eventos culturais do gênero no país e já tem lugar na agenda literária estadual e nacional.
Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, a bienal, realizada em Fortaleza, de 4 a 13 de abril, trouxe uma linda programação com palestras, oficinas, lançamentos de livros, contações de histórias, apresentações artísticas e outras ações do campo literário.
Neste ano, o evento reforça o papel da cultura e da ancestralidade na literatura. Essa mesma literatura, que nos permite voar em nossa imaginação e conhecer outros mundos, tem papel fundamental em nossa educação e na construção do imaginário coletivo da sociedade e na recontagem de nossas próprias histórias.
O tema “Das fogueiras ao fogo das palavras” me leva de volta às histórias sobre meu povo, sobre os espíritos da floresta, sobre a forma como entendemos a criação do mundo e nossa relação com ele. Lembro essas histórias contadas pelo meu avô quando eu, meus irmãos e meus primos éramos crianças. Me faz pensar nas várias noites em que eu e meus irmãos insistíamos com nossa mãe por mais uma história antes de dormir. Sem mais histórias para contar, ela criava outras, sobre os bichos e a floresta, para nos ninar.
“O fogo das palavras” me lembra que palavras têm poder. Que são como flechas que denunciam uma realidade ainda invisibilizada e transmitem uma cultura de imensa riqueza, como nos mostram os grandes discursos dos líderes e escritores indígenas.
Quando discursei na COP26, em Glasgow, pude denunciar ao mundo a violência vivenciada por nós naquele momento e lembrar que nossos modos de vida têm a chave para superar a crise do clima. Por isso devemos estar nas mesas de decisões.
Desde que comecei a escrever aqui na Folha, busco trazer questões pertinentes à vida dos povos indígenas e de toda a sociedade através do olhar de uma jovem mulher indígena. Faço isso em uma imprensa tradicional, na qual apenas 0,2% dos profissionais se identificam como indígenas. Hoje, Ailton Krenak e eu somos os colunistas indígenas aqui desta Folha. Contamos nossas histórias em defesa dos povos e da floresta.
É necessário dar voz aos pensadores e escritores indígenas para que transmitam o verdadeiro pensamento dos povos originários, não os estereótipos criados sobre nós pelo colonizador. É empoderador e nos dá orgulho sermos os protagonistas de nossas próprias histórias, mostrando nossas origens e quem somos. Que possamos ler cada vez mais escritores indígenas e negros para conhecer e valorizar as nossas raízes. E entender que podemos escrever sobre o que quisermos e criar novas belas histórias, assim como minha mãe fazia.
(Txai Suruí para a Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/. Acesso em: junho de 2025. Adaptado.)
Texto III
Troca de saberes com Ehuana Yanomami e Geni Núñez em SP
Lideranças indígenas realizam diálogo sobre cuidados, cura e território no Espaço Floresta no Centro, do ISA
Encerrando o mês de abril – marcado pela luta dos povos indígenas, o Espaço Floresta, no Centro do Instituto Socioambiental (ISA), recebe, no dia 24 de abril, um encontro potente entre mulheres que são referência na valorização dos conhecimentos de seus povos: Ehuana Yanomami e Geni Núñez. A conversa contará com a mediação e tradução de Ana Maria Machado, antropóloga e indigenista que atua em defesa do povo Yanomami há mais de 10 anos.
Ehuana Yanomami é professora, artista, escritora e liderança feminina do povo Yanomami. Co-autora do livro “Yipimuwithëã oni – Palavras escritas sobre menstruação“, de 2017, ela compartilha sua trajetória, saberes e formas de organização das mulheres yanomami em um contexto de resistência frente às ameaças constantes do garimpo ilegal em seu território.
Os trabalhos artísticos de Ehuana Yanomami já percorreram museus em diversas partes do mundo, com exposições na China, EUA, França, Espanha e outros países. Seu talento foi revelado ainda jovem, quando seus primeiros desenhos foram publicados no livro “Hwërɨmamotima thë pë ã oni: Manual dos remédios tradicionais Yanomami“, lançado em 2015, que reúne os saberes ancestrais sobre plantas medicinais de seu povo.
Geni Núñez é psicóloga, escritora, pesquisadora e ativista guarani, autora do livro “Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar“ e “Felizes por enquanto: escritos sobre outros mundos possíveis“. Geni traz reflexões sobre como podemos construir relações que rompem com as lógicas coloniais, abrindo caminhos para a escuta, o cuidado e o reconhecimento entre mundos.
Mais que uma conversa, o evento propõe oferecer ao público uma troca de vivências entre mulheres indígenas que habitam diferentes territórios, mas que compartilham lutas comuns. Uma oportunidade rara de se aproximar das formas de vida, cura, resistência e amor cultivadas pelos povos indígenas.
(Disponível em: https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/. Acesso em: junho de 2025. Adaptado.)
Em um dos textos que escreveu em sua coluna na Folha de São Paulo, Txai Suruí (Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé, ativista e líder indígena) afirmou que “manter a floresta viva não é apenas plantar árvores, mas manter o povo que protege a floresta vivo”. Nesse sentido, e, a partir dos textos motivadores, redija uma dissertação acerca do tema:
“Para além das florestas: formas de preservar a cultura dos povos originários.”
CONTEÚDO EXCLUSIVO
Confira nossos planos especiais de assinatura e desbloqueie agora!
Ops! Esta questão ainda não tem resolução em texto.
Ops! Esta questão ainda não tem resolução em vídeo.
Questões Relacionadas
Texto I
Internetês é a nova linguagem da internet
A necessidade de escrever mais rápido e de forma dinâmica fez com que a comunicação ganhasse até um nome próprio: o internetês. Diante desse cenário, será que escrever com base em emoticons e abreviações afeta o aprendizado das regras ortográficas?
Para a linguista Camilla Duarte, o falante nativo de língua portuguesa sabe reconhecer a ortografia considerada correta dentro da convenção da escrita e também utilizar a ortografia empregada no internetês. “Somos aptos a lidar com as diversas variações da língua. São mudanças que surgem para preencher algumas lacunas que os novos tempos impõem. O internetês apareceu porque temos menos tempo para n…
Texto I
Lei Seca surte efeito em jovens, mas ainda precisa melhorar, alerta especialista
Após 15 anos de sua implementação, a Lei Seca do Brasil (Lei nº 11.705/2008) parece surtir cada vez mais efeito na população mais jovem que dirige automóveis. Ao menos é o que indica uma pesquisa realizada neste ano pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Segundo o relatório, que traz diversas estatísticas relacionadas ao assunto, 19,8% dos motoristas flagrados ao volante sob efeito de álcool têm menos de 30 anos.
O que chama atenção é que esse porcentual é menor que o de motoristas mais velhos flagrados dirigindo sob efeito do álcool.
Em pessoas na faixa dos 30 aos 40 anos, o índice chega a 30…
Texto I
Fim da violência nas escolas ainda é desafio para o Brasil
Entre 2022 e 2023, 49 pessoas morreram, no Brasil, em ataques em ambiente escolar. A superação do problema está presente nos debates do Senado e já deu origem a normas como a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares (Lei nº 14.819/2024). Segundo Sérgio Senna, consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área Segurança Pública, é necessário criar uma rede nacional de enfrentamento ao preconceito e à violência na escola.
(Bianca Mingote. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/. Acesso em: julho de 2024.)
Texto II
Pesquisa revela que 6,7 milhões de estudantes sofreram algum tipo de violência no…



