Texto I
As chamadas fast fashions são empresas da indústria têxtil que se encaixam em um modelo de mercado em que os produtos são fabricados, consumidos e descartados em um curto período de tempo. Apesar de não ser possível negar o caráter problemático desse segmento de mercado, a democratização da moda a partir do fast fashion é um ponto que também deve ser debatido.
Pouco se fala sobre essa democratização do acesso à moda que empresas como a Shein promovem. A empresa trabalha com valores muito abaixo da média de outras empresas, até mesmo do segmento do consumo rápido. Não é à toa que a empresa se tornou a maior varejista online e uma das maiores marcas de fast fashion do mundo.
O mercado da moda, no Brasil, inviabiliza o acesso à moda a grupos sociais específicos, como reflexo da desigualdade social do país. Nesse sentido, a moda também é uma ferramenta de manutenção dessa desigualdade. Dessa maneira, a partir de um recorte socioeconômico, a moda não é uma realidade para minorias como pessoas de baixa renda, e por uma perspectiva de acessibilidade, também não se estende a pessoas gordas e com corpos fora do padrão estético magro.
Desse modo, a Shein viabiliza a democratização do acesso à moda, por ser uma das poucas alternativas para esses grupos de pessoas encontrarem peças estilosas e com as tendências do momento a um preço acessível.
Dentro desse contexto, uma perspectiva muito importante para este debate é também o símbolo da ascensão social que uma roupa pode ter num país pobre como o nosso. Desse modo, é válido evidenciar que o fato de pessoas de baixa renda, negras e gordas, precisarem estar bem vestidas para serem respeitadas, também é um peso na balança de aderência da moda.
Além disso, no Brasil, a realidade da maioria da população é comprar o que dá e não o que se quer, por ter um baixo poder aquisitivo. Assim, esses indivíduos que muitas vezes nunca tiveram acesso ao básico da moda como roupas que possuem um bom caimento em seu corpo, e cabem no seu bolso, encontram na Shein uma empresa que atende suas necessidades.
Por isso, apenas criticar fast fashions e quem consome essas empresas porque precisam não é uma ação lógica, é necessário ir até a origem do problema. A especialista em comunicação e moda Lorena Bastos afirma que “a solução da problemática das fast fashions é bem mais profunda e não está diretamente relacionada à inviabilização do consumo individual”.
(Isalu Sant. “A democratização do acesso à moda e as fast fashions”. https://labdicasjornalismo.com, 23.06.2022. Adaptado)
Texto II
O mundo consumista em que vivemos hoje nos cegou. Aquilo que não vemos ou não sabemos, não sentimos. Não queremos saber de onde veio ou como foi feito, queremos apenas saber qual é o preço. Todo processo produtivo consome recursos naturais e humanos de maneira extraordinária.
Com o aumento da concorrência, o preço se tornou cada vez mais relevante e, para conseguir manter um preço baixo, alguém em algum lugar do mundo está trabalhando por muito pouco ou existe alguma tecnologia substituindo o ser humano.
Quem não quer estar “na moda”, bem-vestido, chique e por um preço acessível? O baixo custo para o consumidor tem um grande impacto sobre a sustentabilidade, tem impacto em mudanças climáticas, efeitos adversos sobre a água e seus ciclos, poluição química, perda de biodiversidade, uso excessivo ou inadequado de recursos não renováveis, geração de resíduos, efeitos negativos sobre a saúde humana, efeitos nocivos para comunidades produtoras.
Em uma economia em expansão, impulsionada pelo consumo excessivo e individual, o modelo fast fashion reproduz coleções de grandes marcas de forma rápida, constante e com baixo custo.
Segundo a Forbes, em média, peças fast fashion são utilizadas menos de cinco vezes e geram 400% mais emissões de carbono do que roupas de marcas slow fashion, usadas aproximadamente cinquenta vezes.
O descarte da indústria, dado o ciclo de vida curto das coleções, é imenso e anualmente em torno de US$ 500 bilhões são perdidos com o descarte de roupas nos aterros. Para se ter uma ideia, na criação de peças, 25% de tudo que é produzido vira lixo, isso sem falar no seu descarte, em que praticamente nada tem sido reaproveitado.
A indústria da moda é responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera, ficando atrás apenas do setor petrolífero. Segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), no Brasil a indústria da moda gera 175 mil toneladas de resíduos têxteis por ano.
Além disso, o impacto negativo do setor da moda não atinge apenas o meio ambiente, sendo profundo na esfera social.
Grande parte das empresas terceirizam sua produção e as terceirizadas também “quarteirizam” o trabalho, buscando minimizar os custos de mão de obra. Segundo a World Trade Statistical Review, a Ásia é a principal exportadora e produtora do mercado têxtil, com destaque à China, Índia, Taiwan e Paquistão. O crescimento da China gerou um pequeno aumento no nível salarial e isso fez com que algumas marcas mudassem o foco rapidamente para países como Bangladesh, Vietnã e Camboja, onde a competição por trabalho mantinha os salários baixos e as margens de lucro mais altas. Resultado? Milhares de pessoas em países subdesenvolvidos expostas a condições subumanas de trabalho.
No Brasil, em 2020, 178 mulheres foram resgatadas de oficinas em São Paulo exercendo trabalho escravo. Há uma grande concentração de imigrantes e refugiados, principalmente latino-americanas nesta etapa da produção.
(Fernanda Camargo. “O custo por trás da indústria da moda é maior do que você pensa”. https://einvestidor.estadao.com.br, 17.07.2021. Adaptado)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da Língua Portuguesa, sobre o tema:
É possível uma democratização da moda sem degradação humana e ambiental?
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