A paciente Rita foi encaminhada para tratamento analítico em unidade ambulatorial após discussão diagnóstica no encontro de supervisão da equipe de referência do centro de atenção psicossocial (CAPS) desse ambulatório. A técnica de referência que acompanhava Rita no CAPS questionara o tratamento dado à paciente, relatando que Rita não aceitava participar de nenhuma oficina, comparecendo ao CAPS apenas para retirar os medicamentos prescritos pelo psiquiatra. Segundo a referida técnica, Rita, que afirmava “não ser maluca”, negava-se a qualquer oferta institucional proposta pelos profissionais. Foi combinado, então, um encontro de Rita com uma analista do serviço de atenção psicossocial, para o devido encaminhamento da paciente ao serviço ambulatorial.
Nas primeiras entrevistas realizadas no ambulatório, Rita afirmou ter 41 anos de idade e revelou ter problema hormonal, diagnosticado, segundo ela, pelos médicos que a tratavam desde os oito anos de idade, tendo chegado a ser internada em instituição psiquiátrica por dezesseis dias na adolescência. Rita descreveu assim suas crises: “eu me enrolava toda na cama, tentava enfiar objetos e lençóis na vagina, agarrava meu pai, meu irmão e qualquer homem na rua”. Ela relatou, ainda, que, aos onze anos de idade, as crises se acentuaram: “eu desmaiava, sentia uma pontada na cabeça, me entortava toda no chão”; afirmou, também, que, durante a adolescência, sua mãe, “mais do que mãe, a única amiga”, havia adoecido após um derrame, que comprometera suas atividades domésticas e familiares, tendo falecido havia oito anos. Rita enfatizou que havia piorado muito em razão dos percalços ocorridos na vida de sua mãe, e que, devido ao agravamento de suas crises hormonais e carnais, viu-se impelida a fazer um “propósito com Deus” – o de permanecer virgem até “a hora que Ele escolhesse um varão” para se casar com ela. Fazendo referência a sua virgindade, Rita associou ser essa a causa de seu “problema hormonal”, afirmando, com relação ao fato de a vizinhança e a família a chamarem de maluca: “eu não sou louca, tenho muito hormônio”. Assim, também, ela interpretou o prognóstico de alguns psiquiatras que a atenderam ao longo desses anos: “os hormônios se acumulam e sobem para a cabeça, mas, se eu arrumar um marido, isso tudo passa”. Quando a analista lhe solicitou que falasse sobre seu interesse pelo casamento, Rita desviou o foco do assunto, demonstrando desesperado medo de ficar só: “eu me preocupo, meu pai está velho e está morrendo, quem vai cuidar de mim?” No contexto desse desespero, já experimentado com a morte da mãe, a paciente pôde falar do desejo de “ter a própria casa, ter o próprio dinheiro, ter um marido”, descrevendo como “problemas de família” uma série de dificuldades na relação com o pai idoso e doente e com alguns irmãos dos quais mantinha distância desde o falecimento de sua mãe.Em certa ocasião, Rita chegou sozinha ao ambulatório, dizendo-se “enganada” com a data do atendimento, que já havia sido realizado na semana e, aproveitando o ensejo, solicitou à analista que a atendesse duas vezes por semana. Rita, que alegava “nunca poder sair sozinha porque passava mal na rua” e, por isso, tinha de, obrigatoriamente, circular pelo bairro acompanhada de seu pai, começou a comparecer, às terças-feiras e às sextas-feiras, ao ambulatório, o que representou, segundo palavras da analista, avanço significativo para o seu tratamento: “você já consegue cuidar de algumas coisas sozinha”. Essa constatação foi ao encontro do desejo de Rita de ter uma vida própria, de modo que pudesse sobreviver ao desamparo familiar. Falar sozinha sobre sua doença também não lhe tinha sido fácil, pois todas as descrições referentes às suas crises e às respectivas formas de tratamento estabelecidas para o seu caso eram acompanhadas do seguinte comentário: “pergunta ao meu pai, você deve achar que é mentira, que eu invento”. Ao longo desses atendimentos, Rita, que continuava frequentando o CAPS, queixava-se, constantemente, do uso de antipsicóticos, que, segundo ela, lhe provocavam novas “crises” assim que eram ingeridos. Ao notar que o psiquiatra resistia em suspender os medicamentos, Rita encontrou uma nova forma de anunciar o efeito medicamentoso sobre seus sintomas, à qual se referiu em um dos atendimentos ambulatoriais: “esses dias tive uma crise na frente do médico para ele ver que eu não falo mentira!”
Em conversa telefônica com o psiquiatra que atendia Rita no CAPS, a analista ficou sabendo que ele estava tentando reformular a conduta medicamentosa prescrita a Rita. Em atendimento a pedido do psiquiatra para discussão do caso clínico de Rita, a analista levou ao conhecimento da supervisão do CAPS relatos dos atendimentos à paciente realizados no ambulatório.
Estudos e Pesquisas de Psicologia. UERJ, 2011.
- histórico clínico da patologia desenvolvida e fundamentos teóricos que o justificam;
- sintomas apresentados e respectivo diagnóstico;
- evolução do quadro clínico e hipóteses de tratamento da doença.
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