A limpeza do óleo derramado não é mais um grande negócio no porto de São Sebastião. O grande negócio é prevenção de derramamento. A Serviços de Limpeza e Prevenção Ambiental (SLPA), a maior empresa de recuperação de óleo do Brasil, adaptou-se a esta mudança e sobreviveu financeiramente para contar sua experiência.
A SLPA, situada no cais da alfândega de São Sebastião, é de propriedade de José Silva & Filhos, que compraram a firma de uma outra de Paranaguá, em 1971. Nessa ocasião, havia muito óleo derramado que precisava ser limpo e, assim, grandes lucros poderiam ser auferidos. Os 100 mil galões derramados do petroleiro Tamano, em 1972, foram o maior negócio da SLPA, pois fez entrar muito dinheiro nos cofres da nova empresa e José Silva & Filhos se regozijaram. Parecia que um arco-íris tinha começado a aparecer no óleo derramado, curvando-se no horizonte ensolarado, em direção a um pote de ouro.
Então, aconteceu o desastre. O número de casos de derramamento de óleo começou a diminuir devido aos regulamentos contra a poluição, impostos rigidamente pelos estados e federação. Tinha chegado a hora da indústria petrolífera prestar contas ao meio-ambiente e as empresas como a SLPA teriam de contar com sua criatividade para continuar no ramo.
“Descobrimos logo depois do Tamano, que não poderíamos depender mais dos derramamentos”, disse Silva durante uma entrevista em seu escritório pouco mobiliado, que lembrava petróleo pelo cheiro e pelo aspecto. “Descobrimos outras maneiras de continuar trabalhando e mantendo, ao mesmo tempo, nossa capacidade de cuidar dos derramamentos, caso ocorressem”.
A empresa investiu amplamente em equipamentos de prevenção à poluição para serem vendidos a outras empresas; projetou novos barcos para serviço dos portos, que hoje comercializa e fez vários contratos para manter tanques de depósito para, pelo menos, meia dúzia de grandes empresas petrolíferas. Sua medida mais lucrativa, porém, foi fazer um contrato de prestação de diversos serviços com a Oleoduto São Sebastião, a maior empresa recebedora de petróleo no porto.
A título de seguro adicional, os proprietários da SLPA investiram numa marina e num edifício de apartamentos – empreendimentos que podem manter seus vinte empregados trabalhando quando suas operações no mar estão paradas.
A SLPA ainda tem condições de enfrentar um derramamento de óleo que não constitua uma calamidade. O do Tamano possibilitou a compra de um número suficiente de novas escumadeiras, aspiradores e outros aparelhos de limpeza, que permitem a empresa passar muitos anos ainda sem precisar aplicar muito capital em equipamentos.
Mas as estacas de fechamento de portos e a vigilância, a limpeza de tanques, a venda de absorventes e de barcos de serviço e a consultoria sobre problemas de controle da poluição são seu ganha-pão de cada dia.
Todos os navios que transportam petróleo e que atracam em São Sebastião têm de respeitar a lei brasileira e a SLPA faz este serviço para metade dos navios-tanque ou mais. “Trabalhamos em média com um navio por semana”, disse Silva. Ele disse que cerca de mil metros de estacas são usados para circundar um navio de 100 mil toneladas.
Quase todo o trabalho de estacas da empresa é feito nas docas da Oleoduto São Sebastião, onde a SLPA tem, rotineiramente, barcos e tripulações. Outros empregados trabalham na lavagem de tanques de depósito de 60 metros de largura. Se um novo tipo de óleo estiver sendo colocado num tanque, “limpamo-lo tão bem que você pode até lamber o chão”, acrescentou Francisco, supervisor geral da SLPA.
O excesso removido dos tanques é vendido pela SLPA a empresas que possam refiná-lo de novo, ou a indivíduos ou empresas que o usem. “Ele não queimará tão eficientemente quanto um óleo de melhor qualidade por causa da areia que contém, mas pode ser comprado por um terço do preço. Hoje em dia, óleo é óleo, e as pessoas parecem não se importar se ele tem um pouco de sedimento, se elas podem comprá-lo”.
Francisco é o principal vendedor da empresa. Passa quase todo o tempo fora do cais, viajando pelo Estado em seu carro de entregas, visitando empresas que possam precisar de absorventes. Disse que quaisquer firmas que tenham muito óleo em suas instalações, como empresas de utilidade pública, fábricas de papel e postos de gasolina, compram muitos cobertores absorventes, esteiras e estacas, “principalmente as que estão perto de vias fluviais, marítimas ou lacustres”.
Ele e Silva pesquisam muito sobre novos materiais de absorção. Naquele local sujo de óleo, abriram sacos plásticos de material feito de fibra vegetal, sobras de fibras de madeira e de telhas acústicas comprimidas e impregnadas de um produto químico resistente à água, sob a forma de esponjas para óleo. Quase todos os absorventes de hoje são produtos reciclados. Francisco disse: “Uma empresa usa diversos tipos de telhas, moendo-as e juntando o material com uma liga plástica. Joga-se o material na água; ele flutua e absorve o óleo”. Estacas prendedoras, de nylon ou de borracha, com prendedores de metal para ficarem na posição vertical dentro d’água também são itens importantes na lista de vendas de Francisco. Além de serem usadas próximo à costa, as estacas são empregadas na absorção de óleo das correntes, dos despejos de esgoto, das marinas e de lagos industriais.
Ouvindo Silva e Francisco falar sobre suas diversas atividades, tem-se a impressão de que eles poderiam ser bem sucedidos sem ter de limpar outro derramamento de óleo. Mas as outras duas empresas de recuperação de óleo da área de São Sebastião – a Serviços Jetline e a Serviços Brasil Coast – não estão, ao que se saiba, indo tão bem sem os derramamentos. Várias fontes locais de informação afirmaram que não se surpreenderiam se as duas firmas menores fechassem, mas que estavam otimistas quanto à possibilidade de a SLPA continuar crescendo. Naturalmente que Silva e Francisco estavam mais do que confiantes. Ainda apostam que a SLPA vai levá-los àquele pote de ouro.
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Baseando-se nas informações apresentadas, produza um texto dissertativo que responda às seguintes questões:
• Como você descreveria o ramo de negócio da SLPA?
• Por que acredita que esta empresa está indo melhor que a Serviços Jetline e que a Serviços Brasil Coast?
• Estas duas últimas firmas participam de outros ramos de negócio?
• Que medidas tomadas pela SLPA contribuíram para seu êxito?