Apresente, com clareza e coerência, o resumo das idéias essenciais desenvolvidas no texto abaixo.
Não é possível separar o que é histórico do que não é histórico no âmbito de um conjunto arquivístico. Fatos ou documentos adquirem esse status a partir de um gesto de interpretação. Já se disse que o documento é reapresentação de algo que teria plena existência antes dele e sem ele; seria, portanto, “uma espécie de meio neutro, sem propriedades ativas, que não interferiria em absoluto no caráter do que prova ou testemunha”. Não se deve esquecer, além disso, o caráter dinâmico da ciência histórica, que coloca sem cessar novos objetos (vale dizer, novos fatos e novos documentos) diante do pesquisador. A procura de “reservas de sentido” nos documentos de arquivo pode ser um belo exercício de imaginação ou de futurologia, mas não tem nenhum cabimento no processo de avaliação […].
Se os documentos de arquivo são desprovidos de autonomia, isto é, retiram sua autenticidade das relações que mantêm com as demais unidades que integram o conjunto, […] qualquer intervenção no sentido de romper seu equilíbrio originário acaba por “implodir” o próprio arquivo. Tal postulado tem dois desdobramentos importantes.
Ao promover o “enxugamento” da documentação, com vistas a torná-la no mínimo mais eloqüente, é preciso preservar a proporcionalidade dos documentos gerados e/ou acumulados pela instituição. A aplicação de técnicas de amostragem não pode significar escolha puramente subjetiva de exemplares, mas operação estatística rigorosa que só poderá ser adequadamente conduzida se houver um bem elaborado quadro de classificação dos documentos. As informações não-verbais que presidem a formatação desse quadro nada têm a ver com os conteúdos específicos dos documentos, […] mas com um sistema de metadados que encontra fundamento no princípio da proveniência e no do respeito à ordem original.
Se a natureza contextual do arquivo faz dos documentos parcelas dotadas de tempo e circunstância, cujo significado pleno só é alcançado no âmbito das relações que mantêm entre si, dificilmente agentes externos à instituição poderão compreender o verdadeiro alcance desse conceito de organicidade. Tenderão a eleger conteúdos e temas conjunturalmente expressivos, sem se dar conta de que promovem reciprocidade entre dois universos perfeitamente distintos: o do arquivo e o dos sentidos que lhe emprestam seus usuários.
(CAMARGO, A. M. A. Sobre o valor histórico dos documentos. Arquivo Rio Claro, Rio Claro, nº 1, 2003, p. 11-17)