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No trânsito do século XXI, uma generosa frota invade as grandes cidades e as consequências dessa superpopulação de veículos geram um terreno perfeito para expressão de nossas mais primitivas emoções: o medo e a raiva. O comportamento emocional está nos “melhores e piores momentos dos motoristas no trânsito” e isso pode ser um grande indicador para todos os interessados na mudança de comportamento do condutor brasileiro. São emoções que transitam de seu universo interno para a via. E isto ocorre quando expurgam sua ira, chutando os retrovisores dos automóveis, ou quando deslocam o “medo de perder” para o pedal do acelerador numa ultrapassagem proibida. Quem está com raiva se envolve duas vezes mais em situações de risco e comete até quatro vezes mais agressões ao volante, segundo um estudo do psicólogo americano Jerry Deffenbacher, da Universidade do Colorado. Nessas situações, a emoção mal gerenciada promove um comportamento de risco que pode culminar num acidente ou conflito violento no trânsito.
RAMALHO, Rodrigo. Os desafios do trânsito do século XXI
O corretor de seguros Gilberto, 45, deu uma bronca em um motorista de táxi que lhe cortou a frente. Ao ouvir um atravessado “não reclama porque você ainda está vivo”, não pensou duas vezes… “Sabe aquele desenho do Walt Disney da década de 50? O Pateta que se transforma dentro do carro? Aquele sou eu. Eu viro um monstro. Entro no carro, respiro fundo e digo: ‘Hoje nada vai me afetar’. Eu viro a esquina e já estou xingando alguém.” O problema de Gilberto, que buscou tratamento após perder a conta do número de desentendimentos em que se envolveu no trânsito, está cada vez mais comum nas ruas da capital paulista. Todos os dias, segundo a Polícia Militar, entre os 35 mil chamados há, em média, 70 para atendimentos de brigas de trânsito na cidade. Uma média de um chamado a cada 20 minutos. Parte dos desentendimentos e das agressões é fruto da disputa entre motoristas por espaços das ruas e avenidas cada vez mais entupidas de veículos.
PAGNAN, Rogério. PM separa 70 brigas de trânsito por dia; veja relato
Vivemos a civilização do automóvel, mas atrás do volante de um carro o homem se comporta como se ainda estivesse nas cavernas. Antes da roda. Luta com o seu semelhante pelo espaço na rua como se este espaço fosse o último mamute. Usando as mesmas táticas de intimidação, apenas buzinando em vez de rosnar ou rosnando em vez de morder. O trânsito em qualquer cidade do mundo é uma metáfora para a vida competitiva que a gente leva, cada um dentro do seu próprio pequeno mundo de metal tentando levar vantagem sobre o outro, ou pelo menos tentando não se deixar intimidar. E provando que não há nada menos civilizado que a civilização. Mas há uma exceção. Uma pequena clareira de solidariedade no jângal. É a porta aberta. Quando o carro ao seu lado emparelha com o seu e alguém põe a cabeça para fora, você se prepara para o pior. Prepara a resposta. “É a sua!” Mas você pode ter uma surpresa. – Porta aberta! – O quê? Você custa a acreditar que nem você nem ninguém da sua família está sendo xingado. Mas não, o inimigo está sinceramente preocupado com a possibilidade da porta se abrir e você cair do carro. A porta aberta determina uma espécie de trégua tácita. Todos a apontam. Vão atrás, buzinando freneticamente, se por acaso você não ouviu o primeiro aviso. É como um código de honra, um intervalo nas hostilidades. Se a porta se abrir e você cair mesmo na rua, aí passam por cima. Mas avisaram. Quer dizer, ainda não voltamos ao estado animal.
VERÍSSIMO, Luiz Fernando. Solidários na porta. Disponível em:
É notório que o trânsito é uma questão de comportamento social, já que envolve grupos, diversas classes sociais e mata indiscriminadamente; poderíamos dizer até que a mortalidade no trânsito é democrática, atingindo todas as pessoas, sem diferenciação social, educacional, religiosa ou política. Eduardo Vasconcelos, no livro O que é Trânsito?, traz uma definição muito interessante: “o trânsito é uma disputa pelo espaço físico, que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos. Uma negociação permanente do espaço, coletiva e conflituosa. E essa negociação, dadas as características de nossa sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a disputa pelo espaço tem uma base ideológica e política, ou seja, depende de como as pessoas se veem na sociedade e de seu acesso real ao poder.” Assim, a luta que se estabelece no trânsito é acirrada, mais ou menos previsível, conforme as pessoas sintam-se ou não iguais perante seus direitos à circulação do trânsito.
Com base na leitura da coletânea, escreva um texto dissertativo argumentativo discutindo a seguinte questão-tema:
a mudança de comportamento dos condutores no trânsito?
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