Leia o fragmento da poesia “Eu Etiqueta” de Carlos Drumond de Andrade publicado no livro “Corpo” em 1984:
“Em minha calça está grudado um nome/ Que não é meu de batismo ou de cartório/ Um nome… estranho/ Meu blusão traz lembrete de bebida /Que jamais pus na boca, nessa vida,/ Em minha camiseta, a marca de cigarro/ Que não fumo, até hoje não fumei./ Minhas meias falam de produtos/ Que nunca experimentei/ Mas são comunicados a meus pés./ Meu tênis é proclama colorido/ De alguma coisa não provada/ Por este provador de longa idade./ Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,/ Minha gravata e cinto e escova e pente,/ Meu copo, minha xícara,/ Minha toalha de banho e sabonete,/ Meu isso, meu aquilo./ Desde a cabeça ao bico dos sapatos,/ São mensagens,/ Letras falantes,/ Gritos visuais,/ Ordens de uso, abuso, reincidências./ Costume, hábito, premência,/ Indispensabilidade,/ E fazem de mim homem-anúncio itinerante,/ Escravo da matéria anunciada/ Estou, estou na moda./ É duro andar na moda, ainda que a moda/ Seja negar minha identidade,/ Trocálo por mil, açambarcando/ Todas as marcas registradas,/ Todos os logotipos do mercado./ Com que inocência demito-me de ser/ Eu que antes era e me sabia/ Tão diverso de outros, tão mim mesmo,/Ser pensante sentinte e solitário/Com outros seres diversos e conscientes/ De sua humana, invencível condição./ Agora sou anúncio /Ora vulgar ora bizarro./ Em língua nacional ou em qualquer língua/ (Qualquer, principalmente.)/ E nisto me comprazo, tiro glória/ De minha anulação . […]”. Drummond de Andrade, 1984)
Discorra sobre os fenômenos de destaque na passagem citada.