O vazio existencial do homem contemporâneo
Que sentido, que valor imprimimos a nossa ação? Somos seres incapazes de contemplar ou tomar conhecimento do que cotidianamente fazemos de nossas vidas. Por que fazemos o que fazemos? Por que levamos a vida que levamos? Ora queremos um novo emprego; ora queremos um novo amor; ora queremos um novo carro; ora queremos uma nova casa. Os homens sempre estão em busca de dinheiro, poder, notoriedade ou divertimentos. Logo que realizam um desejo, surge outro desejo. Nunca estão satisfeitos. Passam a vida buscando bens materiais ou bens simbólicos. São eternamente inquietos. São governados por um querer cego e irracional. Numa primeira análise, somos levados a crer que o único objetivo da vida humana é destruir a própria solidão. Eles não conseguem ficar sozinhos, precisam sempre de agitação. Estão sempre em busca de algo. Envolvem-se em tarefas arriscadas e difíceis; envolvem-se em projetos, conflitos ou conquista que, muitas vezes, lhes trazem infelicidade. Não suportam o silêncio ou estar consigo mesmos. Precisam do barulho, do ruído e da agitação. São incapazes de desligar a televisão ou o rádio quando estão sozinhos em casa. Fogem da solidão como o Diabo foge da cruz. Pascal no século XVII já havia pensado sobre esse problema. Para ele, as pessoas são agitadas, pois não conseguem ficar consigo mesmas, são incapazes de refletirem sobre sua condição miserável e mortal. Não querem refletir sobre sua condição humana, permeada pela dor, dissolução e morte, nada os pode consolar.
Como sugeriu Platão, o nosso espírito é uma caverna, o que falta ao homem é eternidade. Os indivíduos são seres vazios. Vivem na busca de preencher seu mundo interior com algum entretenimento ou com algum objeto. Todo seu sentido interno se expressa pelo sensível e pelo concreto. Buscam preencher sua interioridade com todo tipo de banalidades. O sistema capitalista serviu muito bem a esse propósito. Esse sistema ofereceu ao homem um mundo de entretenimentos, prazeres e objetos para que ele possa preencher seu vazio interior. É por isso que o capitalismo sobreviveu, é por isso que ele se perpetuou. Ele impediu que o homem encarasse o vazio descomunal de sua interioridade. […]
(Disponível em: filosofonet.wordpress.com.)
“Segundo o eminente pensador e discípulos de Freud, Viktor Frankl, o ser humano tem essencialmente ‘vontade de sentido’, contrariamente aos animais que se guiam apenas pelos seus sentidos e pelos objetos que os estimulam. […] A pessoa é um ser sempre insatisfeito e sempre à procura de mais verdade, de maior bem, de mais amor; numa palavra, procura a felicidade. […] Albert Einstein afirmou que quando uma pessoa encontra uma resposta para o problema do sentido da vida já é uma pessoa religiosa. Paul Tillich oferece a seguinte definição: ‘Ser religioso significa abordar apaixonadamente a questão sobre o sentido da nossa existência’ e Ludwig Wittgenstein escreve: ‘Acreditar em Deus significa ver que a vida tem um sentido’. Em suma, a autoconsciência humana, desde que não seja reprimida, remete sempre para uma transcendência. A crença ingênua no progresso uniforme e continuado, o evolucionismo simplista que defendia que a chegada do Homo sapiens implicava o desaparecimento do Homo religiosus, fracassou. Não houve até hoje nenhuma civilização importante que não tenha sido decididamente religiosa, porque o ser humano é religioso por natureza e está sempre ávido de uma espiritualidade e de uma fé no além, associada à fé na vida presente. […]”
(BORAU, José Luis Vázquez. As religiões tradicionais. Lisboa: Paulus, 2008. p. 07-08.)
A partir dos textos apresentados, faça um comentário que relacione a essência humana ao sistema de vida atual.