Livros, ginástica e amigos
Hoje, em todo o mundo, cerca de 550 milhões de pessoas estão conectadas à internet – quase 9 milhões delas no Brasil. Quando a rede de computadores começou a popularizar-se, dez anos atrás, os apocalípticos de plantão, sempre eles, logo alardearam que os efeitos colaterais mais nefastos desse fenômeno seriam o isolamento e a alienação. Que as pessoas deixariam de relacionar-se, que se tornariam ainda mais sedentárias, que teriam o seu cotidiano moldado por uma espécie de irrealidade digital, que emburreceriam, e por aí vai. Não é preciso ser um observador muito atento para constatar que essas previsões alarmistas são balela. E mais: pode ser exatamente o contrário. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, quer enterrar a imagem do internauta como um sujeito misantropo e imbecilizado.
O trabalho, intitulado World Internet Project 2004, é uma compilação de dados sobre o comportamento e os hábitos de 30 000 usuários regulares da internet em catorze países. Ele mostra que os internautas praticam mais exercícios físicos, lêem mais livros e têm uma vida social mais agitada do que aqueles, de mesmo nível socioeconômico, que não utilizam a rede. O Brasil não consta do levantamento, mas os números nacionais disponíveis são semelhantes aos da Universidade da Califórnia. Um exemplo: segundo o Ibope, 40% dos internautas vão pelo menos a um evento cultural por mês. Entre os que não estão habituados a navegar pela rede, esse índice cai para apenas 14%.
A pesquisa americana não se arrisca a produzir explicações. Mas é fato que a internet, na maioria dos casos, ajuda a economizar tempo. Com ela, evitam-se idas a bancos, a supermercados e, graças aos sites de busca, as pesquisas, não importa a área profissional, ficaram bem mais fáceis. Para se ter uma idéia, uma compra grande de supermercado leva, em média, duas horas. Feita via internet, a mesma tarefa consome, no máximo, trinta minutos. O tempo poupado pode ser aproveitado com a leitura de mais livros ou uma agenda mais carregada de programas. Além disso, a internet é uma fonte riquíssima de informações sobre saúde e bem-estar. Não é improvável que, justamente por causa disso, os internautas façam mais ginástica.
(Veja, ano 37, nº 9, 03/03/2004, p.85)
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